quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

INICIAÇÃO À VISÃO HOLÍSTICA


A idéia do holismo não é nova. Ela está subjacente a várias concepções filosóficas ao longo de toda a evolução do pensamento humano. O termo holismo origina-se do grego holos, que significa todo. Esse termo foi primeiramente impregado por Jan Smuts, pensador sul-africano no seu livro Holism and Evolution, publicado em 1925. Na concepção holística, não só as partes de cada sistema se encontram no todo, mas os proncípios e leis que regem o todo se encontram em cada uma das partes e todos os fenômenos ou eventos se interligam e se interpenetram, de forma global: tudo é interdependente.

O todo é concebido como uma realidade não-somativa, ou seja, suas propriedades não derivam das que caracterizam seus componentes. Ao contrário: são elas que determinam as propriedades das partes que o integram. Arthur Koestler desenvolveu o conceito de hólon. Segundo Koestler, partes e todos em sentido absoluto não existem. Todas as entidades, das moléculas aos seres humanos e destes aos sistemas sociais, podem ser consideradas todos no sentido de serem estruturas integradas e também partes de todos maiores, em níveis superiores de complexidade.

Os hólons são possuidores de duas tendências básicas: uma integrativa e outra auto-afirmativa. No que se refere ao ser humano, tomado aqui como exemplo, a tendência integrativa dá ao indivíduo a consiência gregária, que o faz sentir-se parte de um grupo, de uma sociedade, de um todo maior. É graças a ela que o ser humano exercita suas possibilidades de associação, de cooperação, de organização familiar e comunitária, de trabalho em grupo. Já a tendência auto-afirmativa lhe confere a consciência de sua individulidade, de se sentir como pessoa única e especial, diferenciado dos seus semelhantes pelas características originais de sua personalidade.

Essas duas tendências parecem opostas, e realmente são, mas, ao contrário do que pode parece à primeira vista, não são excludentes. A existência de uma não exclui e não desobriga a existência da outra. Pelo contrário, elas são complementares e devem estar em equilíbrio dinâmico. Isso quer dizer que de acordo com o momento e a situação que o indivíduo está vivendo, uma tendência pode e até deve predominar sobre a outra. Mas ambas precisam existir de forma hamônica para que se preserve o equilíbrio - e a saúde - do sistema.

Abordagem da Complexidade e Metatriangulação


Edson Rosa Gomes da Silva
Introdução
Este artigo pretende abordar as principais características da abordagem da complexidade e a construção multi-paradigmática com a utilização da metatringulação.
Ao explorar a complexidade vai-se procurar apresentar a forme de como esta abordagem utiliza seus preceitos para ter uma visão de mundo inter-relacionada à pesquisa.
A metatringulação será apresentada para mostra a possibilidade de utilizar uma técnica de difícil domínio para construção inter-relacional de teorias. Isto devido as especificidades de trabalhar com visões paradigmáticas distintas e, as vezes conflitantes, para esclarecer problemas de pesquisa que carecem de abordagem diferenciadas para atingir uma melhor resolução do problema de pesquisa.
É importante ressaltar que ambos os assunto tratados (Complexidade e Metatriangulação) são sucintamente expostos, pois carecem de espaço mais adequado para ser debatidos e entendidos. Entretanto, embora o espaço aqui seja limitado, o presente papel pode servir como norteador para estudos e aprofundamentos futuros.

Complexidade
A complexidade deriva da palavra complexo que vem do latim complexus, que expressa “aquilo que é tecido em conjunto” como é apresentado pelo Instituto de Estudos da Complexidade (IEC) em seu site.
Desta forma, falar de complexidade não é tarefa muito fácil, mas segundo a Diretora do IEC, Terezinha Mendonça Estarque (2008, p. 1) o pensamento complexo:
[...] é uma forma de ver o mundo que advém, entre outras coisas, do reconhecimento de uma hipercomplexidade do real, cada vez mais revelada pelos avanços da ciência, exigindo um outro modo de articulação do conhecimento que coloque em ressonância problemas oriundos de saberes múltiplos tais como a arte, a filosofia e as ciências.

Neste sentido a abordagem da complexidade oferece uma maneira diferente de pensar e descrever o mundo. Está forma, segundo Edgar Morin, é associada a não separa ou redução como menciona:
O conhecimento, sob o império do cérebro, separa ou reduz. Reduziremos o homem ao animal, o vivo físico-químico. Ora, o problema não é reduzir nem separar, mas diferenciar e juntar. O problema-chave é o de um pensamento que una, por isso a palavra complexidade, a meu ver, é tão importante, já que complexus significa “o que é tecido junto”, o que dá uma feição à tapeçaria. O pensamento complexo é o pensamento que se esforça para unir, não na confusão, mas operando diferenciações. Isto me parece vital, principalmente na vida cotidiana [...] (MORIN, 1999, p. 33)

O mundo não esta disposto em uma linearidade, esta é uma das mensagens da complexidade. Estes pressupostos, embora ainda vigorem, de que o mundo é linearmente organizado e compreensível de forma objetiva estão na visão herdada dos “cientificistas” do séc. XVII, associada especialmente a Galileu, Descartes e Newton (KUHN, 2007).
Por muito tempo se pensou que o mundo podia ser percebido como um sistema mecânico, e este ser descrito sem considerar o papel do observador, onde causas e efeitos podiam ser logicamente previstos, onde a ciência podia oferecer explicações precisas sobre o mudo. Depois se considerou a visão do observado, e a observação passou a verificar isoladamente os indivíduos. Esta visão perdura entre os fenomenologos que buscam a descrição separada do conhecimento.
Entretanto, a teoria da complexidade parte de um ponto de vista que assume as “coisas” – e a nós mesmos – de forma intrinsecamente relacionada.
Neste sentido a Complexidade não deve ser vista como uma maneira mais detalhada e verdadeira de estudar o mundo, mas uma nova maneira de observar e narrar o mundo a partir de relações complexas.
Para Kuhn (1970, apud KUHN, 2007, p. 156) se apresenta:
[...] um paradigma ou visão de mundo se refere a um conjunto de crenças ou suposições básicas, ou um posicionamento sobre a natureza e a organização do mundo, juntamente com as crenças sobre a melhor forma de investigá-lo.

Bauer (2009, p. 3) apresenta claramente a visão pujante que envolve a complexidade e esclarece da seguinte forma:
  O que as teorias da Complexidade estão fazendo, em essência, é demonstrar que tudo no Universo é composto tanto por ordem como por desordem, cabendo à ciência aceitar que a incerteza não tem como ser dirimida. O objetivo último do conhecimento não deve mais ser o de desvendar todos os segredos do mundo, mas sim o de propor-se a dialogar com este mundo e suas incertezas.

Pode-se afirmar que o ser humano é antes de tudo um ser explicante. Embora viva num mundo resistente à compreensão, o homem insiste em construir explicações sobre ele. Além de tentar explicar o que não entende, o homem o faz com exageros, insistência e arrogância. Desta forma a ciência da complexidade é vista como um diverso campo de pesquisa que emerge incorporando áreas como física, matemática não-linear, química, ciências micro-biológicas, cibernética, estudos de turbulências e sistemas instáveis.
 Na complexidade ontologia e epistemologia são concebidas como mutuamente constitutivas e não dissociadas. Complexidade descreve um conjunto de narrativas que sugerem que embora certo fenômeno pareça caótico e randômico, ele é realmente parte de um processo coerente maior.
Kuhn afirma que:
A complexidade é “uma poderosa teoria social, pois ela amplia as possibilidades humanas, aprofunda o pensamento e incentiva a inovação” (Kuhn, 2007, p 163 apud Kuhn, 2002, p. 50).

Segundo Kuhn a abordagem da complexidade não é tida como inter-relação de abordagem, mas sim um arcabouço para orientar fielmente a pesquisa científica como se percebe:
Na abordagem da complexidade, aqui proposta, não é visto como uma das ciências interdisciplinares, não é mesmo uma tentativa de integração entre as várias abordagens. Pelo contrário, a complexidade é tomada como um pacote paradigmático, uma orientação estratégica, com suas metáforas ter relevância potencial entre as disciplinas. (KUHN, 2007, p.169) (Tradução Nossa)

Metatriangulação para construção de Teorias
A questão problema da pesquisa cientifica em diferente área do conhecimento enfrenta um problema extremo, ou seja, “como conduzir investigações baseadas em vários paradigmas” (LEWIS; GRIMES, 1999, p. 73).
Frente a esta questão, surge um desafio e Poole e Van de Ven propuseram que os pesquisadores “busquem tensões ou oposições teóricas e as utilizem como estímulo ao desenvolvimento de teorias mais abrangentes” (LEWIS; GRIMES, 1999, p. 73).
Investigação multi-paradigmática
A investigação multi-paradigmática vem para satisfazer a demanda a cerca da utilização de paradigmas individuais à abordagem de problemas avançados de pesquisa, e que de certa forma não se encontra constructos teóricos satisfatórios para esclarecer problemasn de forma isolada.
LEWIS e GRIMES (1999) destacam três abordagens dadas:
·         Revisão Multi-paradigmática
·         Pesquisa Multi-paradigmática
·         Construção de Teorias Multi-paradigmática

Revisão multi-paradigmática

Ao utilizar revisão multiparadigmática os pesquisadores procuram revelar o impacto da ênfase a algumas premissas, muitas vezes dadas como certas pelos teóricos, em suas interpretações sobre os fenômenos organizacionais com duas técnicas que são utilizadas:
·         O agrupamento de Paradigma: diferenciação entre conjuntos variados de premissas.
·         A ligação de Paradigmas: propõe zonas de transição: visões teóricas que liguem os paradigmas.

Pesquisa Multi-paradigmática
Na pesquisa Multi-paradigmática os estudiosos vão além das revisões da literatura existente e aplicam empiricamente as lentes de paradigmas divergentes. Ao conduzirem estudos paralelos ou seqüenciais, os teóricos utilizam paradigmas múltiplos na coleta e análise de dados e no cultivo das diversas representações de um fenômeno no complexo.
·         Estudos Paralelos: preservam os conflitos teóricos ao descreverem as vozes, imagens e os interesses organizacionais ampliados por lentes em oposição.
·         Estudos Sequenciais: os pesquisadores cultivam diversas representações para informar uns aos outros, propositalmente, os resultados de um estudo sob determinado paradigma que proporcionam insumos para estudos subsequentes.

Construção de Teorias Multi-paradigmática
Construção de teorias multiparadigmática auxilia os teóricos na administração de suas racionalidades limitadas e, assim, na acomodação de visões opostas em uma perspectiva multi-paradigmática. Para isto é utilizado duas técnicas:
·         Metateorização: ajudam os teóricos a explorar padrões que ligam interpretações conflitantes.
·         Interação: ajudam os teóricos a desenvolver habilidades nas teorias metaparadigmáticas e a interpretá-las.

Metatriangulação
A diferença é que a abordagem Multiparadigmática denota perspectivas paradigmáticas distintas e a metatriangulação representa uma visão mais holística, que vai além das distinções paradigmáticas e busca revelar disparidade e complementaridade.
A metatriangulação pode auxiliar no desenvolvimento destas teorias mais abrangentes, pois é vista como uma estratégia de aplicação da diversidade paradigmática para promover um maior entendimento de determinados assunto com alto grau de criatividade.
Desta forma, se pode citar Bataglia et. al. (2007) que menciona que:
[...] a metatriangulação para desenvolvimento de teoria conforme Lewis e Grimes (2005) corresponde à investigação multiparadigmática que tem como objetivo explicitar premissas divergentes, facilitando o conhecimento, a utilização, a crítica e o entrelaçamento de perspectivas alternativas. Busca sobrepor e entrelaçar interpretações divergentes em um novo entendimento (BATAGLIA; MEIRELLES; BARRELLA, 2007, p. 10).


Com a metatriangulação, o objetivo não é encontrar “a” verdade, mas encontrar visões de mundo diversas e parciais (GIOIA; PITRE, 1990 apud LEWI; GRIMES, 1999, p. 86).

Conclusão
A abordagem da complexidade apresentada evidenciou um paradigma alternativo dos tradicionais utilizados nas pesquisas cientificas. Embora esteja em crescente emergência não é uma abordagem fácil de trabalhar, pois necessita de um aprofundamento consistente das teorias para desbravar os caminhos a serem trilhados ao longo da pesquisa.
Investigação multi-paradigmática e a metatriangulação também deve ser empregada com certa preocupação e principalmente por investigadores experientes. Nesta última o domínio das técnicas é fundamental.
Assim, procurou-se discorrer sucintamente destes dois assuntos (complexidade e metatriangulação) com a finalidade de buscar um entendimento substancial e amadurecer a visão da utilização de paradigmas na pesquisa científica.

Referências
ALEXANDRE, Agripa Faria. Metodologia Ciênctifica e Educação. Editora da UFSC. Florianópolis. 2009.

BATAGLIA, Walter; MEIRELLES, Dimária Silva e; BARRELLA, Fabiola Pires. Rumo a um Modelo Integrativo entre a Ecologia Organizacional e a Economia Evolucionária. 2007. Disponível em: . Acesso em: 03/04/2010.

LEWIS M. W.; GRIMES, A. I.  Metatriangulation: building theory from multiple paradigms. Academy of Management Review. 1999.

KUHN, Lesley. Why Utilize Complexity Principles In Social Inquery. In: The Journal of General Evolution. World Futures. Volume 63. 2007.

MENDONÇA, Terezinha E. Pensamento Complexo. Instituto de Estudos da Complexidade. 2008. Disponível em: . Acesso em 02/04/2010.

MORIN, Edgar. Por uma reforma do pensamento. In: O pensamento Complexo: Edgar Morin e a crise da modernidade. Organizadores Alfredo Pena-Veja e Elimar Penheiro de Almeida. Rio de Janeiro. Garamond. 1999.

BAUER, R. Caos e Complexidade nas Organizações. 2009. Disponível em: Acesso em: 03/04/2010.

Metodologia sistémica

Artigo sobre a metodologia sistémica. Em seu resumo menciona que: A ciência providencia-nos o método científico. A metodologia de sistemas fornece-nos a aproximação sistémica. Ambas são meta-disciplinas no sentido de que são meios para a compreensão do mundo, ou melhor, são instrumentos de trabalho a utilizar numa qualquer disciplina. Para acessar o artigo completo clique aqui.