Introdução
Este artigo apresenta a perspectiva positivista da ciência focando no olhar filosófico. Aborda como se deu a gêneses do pensamento positivista. Apresenta seu principal fundador e os principais autores que ajudaram no desenvolvimento do ponto de vista positivista. Qual a corrente que ele claramente se opõe. Quais as suas evoluções e as mudanças de pensamento ao longo da história. Os pontos de vistas mais utilizados por esta corrente e por que é ainda utilizada por muitos estudiosos respeitados.
Positivismo
A raiz do positivismo remota da antiguidade, e tem seus primórdios no empirismo. Entretanto suas bases concretas e sistematicamente consolidadas ocorreram entre os séculos XVI e XVIII, sobretudo com Bacon, Hobbes e Hume (TRIVIÑOS, 1987). Contudo o precursor declarado do positivismo foi o Auguste Comte (1798 – 1857), que fundamentou suas preocupações em três pontos:
Uma filosofia da história (na qual encontramos as bases de sua filosofia positiva e sua célebre “lei dos três estados” que marcariam as fases da evolução do pensar humano: teológico, metafísico e positivo); uma fundamentação e classificação das ciências (Matemática, Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Sociologia); e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro momento, ele denominou física social (TRIVIÑOS, 1987, p. 33).
A preocupação de Comte com a humanidade fica expressa ao postular uma religião. Segundo ele, por meio da pregação se abrandaria os capitalistas que seriam mais humanos com as mulheres e o proletariado, assim eliminaria os conflitos de classes, mas com a manutenção da propriedade privada (TRIVIÑOS, 1987).
É prudente destacar que o positivismo está inserido na corrente do idealismo filosófico, mas precisamente dentro do idealismo subjetivo, que tem como representantes clássicos Bekeley, Fichte e Hume. O idealismo filosófico tem duas tipificações, que por sua vez tem diferenciações, como se pode observar na figura 01.
Ao longo da história pode-se destacar que o positivismo galgou três momentos de evolução (TRIVIÑOS, 1987, p. 33):
· Um primeiro, denominado de positivismo clássico, nos qual, além do fundador Comte também se sobressaíram os nomes de Littré, Spencer e Mill.
· Em seguida, ao final do século XIX, o empiriocriticismo de Avenarius e Mach.
· A terceira etapa chama-se de neopositivismo e compreende uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o empirismo lógico, vinculados ao Círculo de Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath, etc.); o atomismo lógico (Russell, e Witgenstein); a filosofia analítica (Witgenstein e Ayer) que acham que a filosofia deve ter por tarefa elucidar as formas da linguagem em busca da essência dos problemas; o behaviorismo (Watson) e o neobehaviorismo (Hull e Skinner).
Entretanto, alguns autores, como Hugles (1980, p. 25) apresentam como sendo o positivismo freqüentemente associado a outros rótulos como “naturalismo, empirismo, behaviorismo e até mesmo ciência, que são alguns dos prediletos”. Hugles (1980) destaca que no seio das ciências sociais o positivismo galgava domínio intelectual, sendo classificado como uma ortodoxia positivista.
O positivismo se opõe ao conhecimento metafísico tendo suas convicções balizadas pelo conhecimento positivo, principalmente a experiência sensorial empiricamente comprovada e o positivismo lógico, no princípio.
Figura 01 – Divisões do Idealismo Filosófico
O positivismo aceita apenas a realidade que seja dos fatos, ou seja, que podem ser observados e comprovados empiricamente. Desta forma, Triviños (1987, p. 34) menciona que alguns dos principais fundamentos do positivismo, cujo emprego considera-se prática comum entre os pesquisadores está, desde Bacon, “a busca da explicação dos fenômenos através das relações dos mesmos e a exaltação da observação dos fatos”, que resulta evidente da ligação destes fatos com uma teoria.
O próprio Durkheim afirma que os membros da sociedade não sabem o que são Estado, soberania, liberdade, democracia, socialismo, religião e isto não quer dizer que não tenham ideias formadas sobre isso tudo, mas que são idéias confusas e vagas (HUGLES, 1980, p. 36).
O foco do positivismo esteve centrado na neutralidade de ciência, ou seja, a ciência estuda os fatos como forma de conhecê-los dentro de uma perspectiva desinteressada. O papel é exprimir a realidade e não julgá-la. Desta forma a unidade metodológica é a idéia básica do positivismo para investigação dos fatos naturais e sociais (TRIVIÑOS, 1987).
A aspiração mais notória dos positivistas era conseguir atingir um grau de generalização nos resultados das pesquisas sociais. Isto, utilizando os métodos e técnicas necessárias como menciona Triviños (1987):
As técnicas de amostragem, os tratamentos estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram instrumentos usados para concretizar estes propósitos. Partiam do princípio positivista da unidade metodológica entre a ciência natural e a ciência social. [...] “a flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condições históricas, unidas ao fato de que na pesquisa social o investigador é um ator que contribui com suas peculiaridades (concepção do mundo, teorias, valores etc), não permitirão elaborar um conjunto de conclusões frente a determinada realidade com o nível de objetividade que apresenta um estudo realizado no mundo natural” (TRIVIÑOS, 1987, p. 38).
Neste intere, os positivista lógicos desenvolveram a ideia de fisicalismo, procurando atingir uma linguagem única comum para a ciência. “O fisicalismo consistia em expressar o postulado científico à linguagem da física” (TRIVIÑOS, 1987). Este propósito não alcançou bons resultados até no meio dos positivistas lógicos.
Os positivistas reconheciam apenas dois tipos de conhecimento autênticos, verdadeiros, legítimos - numa palavra científico: o empírico, representado pelos achados das ciências naturais, o mais importante de ambos, é o lógico, constituído pelo lógico e pela matemática (HERMAN, 2005 apud TRIVIÑOS, 1987, p. 38-39).
As concepções dos positivistas vêm sofrendo mudanças ao longo do tempo e os positivistas modernos tem condição de ver de forma clara a ciência que não apenas um sistema de conceito, mas uma ciência pautada na percepção dos problemas sociais da sociedade.
O filósofo Argentino, Mário Bunge, considerado um positivista devido a similaridade que esta abordagem apresenta com sua ideias, afirma que qualquer sistema pode ser modelado através da quádrupla do modelo CESM (Composition – Environment – Structure – Mechanism). Ele acredita que para se conceber um sistema é necessário saber a composição (coleção de todas as partes do sistema), ambiente (coleção de itens que não pertencem ao sistema e atuam ou sofrem a ação por algum ou todos os componentes do sistema), estrutura (coleção de relações, em particular ligações (bonds), entre os componentes do sistema ou entre esses e seu ambiente) e mecanismo (coleção de processos que fazem o sistema se comporta da maneira que tem de se comportar).
Entretanto, grande maioria dos seus leitores, e ele próprio, afirmam que não pode ser enquadrado como positivista.
Conclusão
É evidente que muitos dos tabus devem ser colocados por terra nos mais variados campos da ciência, mas as mudanças não ocorrem de forma abrupta, mas de forma paulatinamente, pois a mudança de paradigmas não é uma tarefa fácil. A simples aceitação de uma mudança é vista pela comunidade científica como “perda de terreno” e não como evolução do pensamento científico. O amadurecimento tem que partir dos pesquisadores.
O importe é que se possa ter abertura para expor as ideias com a possibilidade de defendê-las. Com todo amadurecimento que o positivismo alcançou nestas décadas ainda está em constante mudança.
Não há dúvidas que o positivismo representa, especialmente através de suas formas modernas de positivismo, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento como mencionou Triviños (1987).
Contudo avanços são necessários e fazem parte do desenvolvimento científico e intelectual da sociedade.
Referências
HERMAN, Mariane Inês. AS TRÊS CORRENTES TEÓRICAS. 2005. Disponível em: < http://www.unisc.br/cursos/graduacao/servico_social/artigos/artigo_ines.doc>. Acesso em: 20/03/2010.
HUGHES, J. A Filosofia Da Pesquisa Social. Rio De Janeiro: Zahar Editores, 1980.
MARTINS, Roberto de Andrade. O que é ciência, do ponto de vista da epistemologia? Caderno de Metodologia e Técnica de Pesquisa. Nº 9. 1999. Disponível em:< http://ghtc.ifi.unicamp.br/pdf/ram-72.pdf>. Acesso em: 12/03/2010.
MORGAN, G. Paradigmas, Metáforas e Resoluções de Quebra-cabeças na Teoria das Organizações. In: Teoria das Organizações. Caldas, p. Miguel. Bertero, Carlos Osmar. (Coord). São Paulo: Atlas. 2007.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1992.