EDSON ROSA GOMES DA SILVA
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
EGON SEWALD JUNIOR
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
RESUMO:
Ciência é comumente definido como sendo um conjunto metódico de conhecimentos obtidos mediante a observação e a experiência. A noção de ciência permeia as áreas de conhecimento e as disciplinas do saber humano. O presente artigo tem com objetivo levantar definições acerca do termo “ciência”, discutir sobre os critérios de cientificidade, evolução da ciência, sua especializações e os problemas gerados por tais especializações. Para sua elaboração, foi feito revisão bibliográfica relacionado ao assunto. O tema se mostra importante pela necessidade de conceituação do trabalho científico e a definição do que não é científico, para basear o trabalho acadêmico. Conclui-se que a percepção de como se deve observar a ciência, pode ter diversas formas e vai depender do pondo de partida do investigador. A abordagem pode variar de acordo com que se pretende buscar no processo de produção científica. Este deve ser bem definido, mas flexível para não tolher a criatividade e a inovação científica.
1. Introdução
A noção de ciência permeia as áreas de conhecimento e as disciplinas do saber humano. O critério de cientificidade é dado pela comunidade científica. A comunidade estabelece dentro dos parâmetros constituídos pelas autoridades científicas o que pode ou não ser considerado válido e aceito como conhecimento científico. Este processo de validação já acontece a muito ao longo dos séculos, entretanto não é um processo imutável. Ele vem sofrendo mudanças e transformações durante a história da sociedade. O conhecimento que é produzido em uma determinada época pode não ser aceito, mas pode ser interpretado diferentemente e tido como válido em outra. O processo de validade depende de uma série de pormenores, como a utilização de métodos de pesquisa adequados. Com a utilização de um método comumente aceito pela comunidade cientifica o produto da pesquisa pode ser entendido como incremento ou até avanço científico. Vale ressaltar que alguns autores como Popper (1972) não admitem o incremento de uma teoria, sendo que a falseabilidade de uma teoria, cria outra teoria nova, sobrepondo a antiga. Por sua vez, Carnap (apud Dutra, 2009) aceitaria que as teorias podem ser incrementadas.
Desta forma, a significância da abordagem, a inovação agregada ao assunto, a metodologia, a forma e os procedimentos, entre outros, são analisados para se classificar o conhecimento produzido. Estas formas de abordagens dos problemas de pesquisa são ligadas as formas filosóficas de perceber o mundo. Isto dentro do critério de prioridade no qual o pesquisador se encontra inserido, e isso podendo ser este dual ou não, mas que será levada em conta pela comunidade quando da apresentação dos resultados de sua investigação.
Este artigo pretende discorrer sobre o que é ciência dentro das perspectivas encontradas nas literaturas. Por meio da pesquisa bibliográfica se pretende buscar subsídios para o entendimento do que é ciência na contemporaneidade. Quais são as visões sobre a forma de abordar os problemas de pesquisa e se os empregado atendem e dão conta de explicar os fenômenos da sociedade. Isto procurando apresentar as transformações e adaptações que envolveram o pensamento científico. O propósito é entender como acontece o enlace que define o pensamento científico no contexto de conhecimento significativamente verdadeiro.
2. A ciência
Para começar a falar sobre “ciência” é imperativo que se apresente o significado da palavra, para esclarecer o entendimento sobre objeto ao qual se pretende discorrer neste artigo. A palavra ciência, quando pesquisada em dicionários, é tida como saber ou conhecimento. Encontra-se que sua etimologia vem do latim scientia (“conhecimento”), o mesmo do verbo scire (“saber”) que designa a origem da faculdade mental do conhecimento (Wikipédia). Felipe Sampaio corrobora com nosso entendimento quando menciona que:
[...] a etimologia da palavra ciência vem do latim scientia que significa conhecimento. Mas não podemos parar por ai, atualmente a palavra ciência se contextualizou e traz consigo, além da ideia do conhecimento, a ideia da incessante busca pela verdade através de métodos específicos (FELIPE SAMPAIO, 2009 p. 1).
Pode-se perceber que saber e verdade estão imbricados, pois a busca do saber está relacionada intimamente com a verdade. Segundo Aristóteles há seis modos do “saber” que em grego está ligada a palavra aletheia, que tem seu significado como “verdade” (no sentido de desvendamento, o mesmo que não oculto, não escondido) (GARCIA, 2001). Estes seis modos que estão ligados a palavra verdade são tékhne (arte, habilidade do homem saber modificar os objetos da natureza), phrónesis (sabedoria prática), epistéme (ciência), nous (inteligência, intelecto), sophia (sabedoria) e a doxa (opinião, conhecimento do senso comum) (BRAGA, 2001). Estes diferentes modos de encontrar o saber, ou seja, a verdade - estão ligados aos paradigmas de produção do conhecimento científico. Além da aletheia (verdade) de origem grega, Garcia (2001, p. 252) destaca duas outras origens do termo, sendo:
[...] do latim, no qual a verdade se diz veritas, que se refere à precisão, ou seja, relaciona-se ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz, com detalhes, com pormenores e com fidelidade, o ocorrido.
[...] do hebraico no qual verdade se diz emunah, e significa confiança, a verdade é uma crença com raiz na esperança e na confiança, relacionadas ao futuro, ao que será ou ao que virá. Sua forma mais elevada é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.
Para Alves (1981, p. 12), a ciência é uma especialização, um refinamento de potenciais comuns a todos; é a hipertrofia de capacidades que todos têm. Isto pode ser bom, mas pode ser muito perigoso. Quanto maior a visão em profundidade, menor a visão em extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos [...] a aprendizagem da ciência é um processo de desenvolvimento progressivo do senso comum.
Para Dutra (2009, p.13), a própria discussão sobre ciência nos traz diversos problemas epistemológicos (sobre o que conhecemos sobre; a disciplina que trata dos problemas cognitivos mais gerais ou mais básicos) da ciência. Dutra inicia apresentando um problema sobre a natureza do conhecimento (e as limitações para o conhecimento) e conseguinte, a natureza do conhecimento científico.
Garcia (2001, p. 252) destaca que se podem ter diferentes concepções filosóficas sobre a natureza do conhecimento verdadeiro, isto depende de “qual das três ideias originais de verdade”, que são predominantes dentro do pensamento, se pretende aceitar e apresenta sua interpretação:
a) Quando predomina a do grego aletheia: considera-se que a verdade está na evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade, tal como é em si mesma, alcançada pelas operações de nossa razão ou de nosso intelecto.
b) Quando há o predomínio do latim veritas: considera-se que a verdade depende do rigor e da precisão.
c) Quando predomina a do hebraico emunah: considera-se que a verdade depende de um acordo ou de um pacto de confiança entre os pesquisadores, que definem um conjunto de convenções universais sobre o conhecimento verdadeiro, que deve ser respeitado por todos.
Na verificação da realidade se observa muitas vezes a necessidade de conhecimento pragmático para as soluções de problemas, e nesta perspectiva emerge do conhecimento tecnológico a solução, mas que muitas vezes não é aceita em decorrência do que é apresentado quanto a ideia de verdade aceita pela comunidade de pesquisadores (emunah).
Assim, se percebe que para ter um entendimento sobre o que é ciência é necessário procura mais fundo, a fim de se alcançar um bom entendimento.
Para se chegar ao aprofundamento pretendido é prudente verificar o que é ciência por meio da epistemologia.
Martins (1999, p. 6) afirma que não se pode entender “o que é ciência” sem antes ver sua interpretação, pois segundo o autor, a abordagem pode ser uma “questão de fato” (questão empírica – o que tem sido ciência?), uma questão de “natureza normativa” (questão axiomática – o que deveria ser ciência?) ou uma questão de “como se define o termo” (questão analítica – o que poderia ser ciência?).
Abordando o termo pela perspectiva da questão empírica, seria necessário descrever o que tem sido chamado de ciência ao longo dos tempos.
Perceber-se que ao longo dos tempos há uma mudança gradual, pois a prática científica sobre mudanças, e esta discussão se enquadraria no campo de uma “disciplina meta-científica ” e não filosófica (MARTINS, 1999, p. 7).
Na segunda perspectiva, axiomática, levanta-se uma questão sobre como a ciência deveria ser, ou seja, se sua utilização é correta ou não, e isso implicaria fazer juízo de valores do ponto de vista ético. Segundo Martins (1999), este valores podem ser internos (melhorar o conhecimento da natureza) ou externos (beneficiar a humanidade) e esses pontos cabem a filosofia responder.
A terceira perspectiva é a analítica e foca no que pode ou não ser considerado ciência. E neste caso pode ser visto de diferentes maneiras. Assim, apresentam-se três indagações a respeito desta perspectiva que é abordada no Martins (1999, p. 8) para reflexão futuras:
• Quais as diferentes concepções de ciência que já existiram;
• Quais as diferentes concepções de ciência que se pode inventar;
• O que é filosoficamente possível ou impossível na ciência.
Algumas destas indagações podem ser respondidas pela filosofia, por fazer parte das questões filosóficas à visão de ciência. Desta forma, o que a filosofia apresenta em sua base?
O artigo continua, mas será melhorado e publicado...