Introdução
Este artigo procura apresentar a percepção no entendimento entre as fronteiras do conhecimento científico e do conhecimento tecnológico. Para alcançar este objetivo se abordará com mais ênfase o significado do conhecimento tecnológico. Isto por que o conhecimento científico é mais bem aceito pela comunidade científica. Procurar-se-á apresentar a linha de alcance da tecnologia na ciência, a não similaridade entre o conhecimento tecnológico e a ciência aplicada e o ponto que harmoniza o conhecimento científico e o tecnológico. Por fim, ficará claro que o conhecimento tecnológico não há utilização de simples técnicas e que contribui com conhecimento específico para a ciência.
Conhecimento Tecnológico
Para iniciar a abordagem sobre o conhecimento tecnológico é prudente entender o significado da palavra tecnologia. Desta forma, se esclarece que o termo tecnologia deriva do grego, sendo tecno (tekhne) a habilidade de saber fazer, ou seja, “técnica que envolve as habilidades práticas de saber e fazer” (ofício) (HERSCHBACH, 1995, p. 32), já o sufixo logia é do grego lógos que significa estudo. Segundo Herschbach (1995, p. 32) “o radical logo tem significado mais amplo, incluindo argumento e explicação, em princípio, mas seu uso mais importante é provavelmente “o uso da razão””.
Segundo Aristóteles há seis modos do “saber” que em grego esta ligada a palavra aletheia, que tem seu significado como “verdade” (no sentido de desvendamento, o mesmo que não oculto, não escondido) (GARCIA, 2001). Estes seis modos que estão ligados a palavra verdade são tékhne (arte, habilidade do homem saber modificar os objetos da natureza), phrónesis (sabedoria prática), epistéme (ciência), nous (inteligência, intelecto), sophia (sabedoria) e a doxa (opinião, conhecimento do senso comum) (BRAGA, 2001). Estes diferentes modos de encontrar o saber, ou seja, a verdade, estão ligados aos paradigmas de produção do conhecimento científico. Além da aletheia do grego Garcia (2001, p. 252) destaca duas outras origens, sendo:
[...] o latim, no qual a verdade se diz veritas, que se refere à precisão, ou seja, relaciona-se ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz, com detalhes, com pormenores e com fidelidade, o ocorrido. [...] o hebraico no qual verdade se diz emunah, e significa confiança, a verdade é uma crença com raiz na esperança e na confiança, relacionadas ao futuro, ao que será ou ao que virá. Sua forma mais elevada é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.
Garcia (2001, p. 252) destaca que se pode ter diferentes concepções filosóficas sobre a natureza do conhecimento verdadeiro, isto depende de “qual das três idéias originais de verdade”, que são predominantes dentro do pensamento, se pretende aceitar das correntes filosóficas e apresenta sua interpretação:
a) Quando predomina a do grego aletheia: considera-se que a verdade está na evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade tal como é em si mesma, alcançada pelas operações de nossa razão ou de nosso intelecto.
b) Quando há o predomínio do latim veritas: considera-se que a verdade depende do rigor e da precisão.
c) Quando predomina a do hebraico emunah: considera-se que a verdade depende de um acordo ou de um pacto de confiança entre os pesquisadores, que definem um conjunto de convenções universais sobre o conhecimento verdadeiro, que deve ser respeitado por todos.
Na verificação da realidade se observa muitas vezes a necessidade de conhecimento pragmático para as soluções de problemas, e nesta perspectiva emerge do conhecimento tecnológico a solução, mas que muitas vezes não é aceita em decorrência do que é apresentado quanto a ideia de verdade (emunah).
Assim, a tecnologia pode ser vista como um estudo de como se faz alguma coisa com a finalidade de buscar uma mudança. Como um conhecimento tecnológico que possa ser empregado e encontre seu significado na atividade humana.
Alguns cientistas têm certo tipo de restrição sobre o conhecimento tecnológico. Entretanto há regiões que o observam como melhores olhos que outras:
A tecnologia sempre significou um estudo mais modesto por causa da ênfase na aplicação, ou fazer, embora o uso do termo francês “implica um elevado grau de sofisticação intelectual aplicado às artes e ofícios” (Hall, 1978, p. 91).
Outra verificação pode ser encontrada em Herschbach (1995, p. 32) em que:
No idioma Inglês, o termo "tecnologia" adquiriu utilização limitada no final do século XIX, como uma maneira de se referir à ciência aplicada (conhecimento) para a fabricação e uso de artefatos. No nosso século, o conhecimento formal está intimamente ligado com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
O professor Cupani (2006) destaca Mitcham (1994), que apresenta quatro perspectivas básicas da abordagem tecnológica mencionando:
[...] en un libro que constituye probablemente la mejor introducción a esta área filosófica, señala que la tecnología puede ser abordada desde cuatro perspectivas básicas: como cierto tipo de objetos (los artefactos), como una clase específica de conocimiento (el saber tecnológico), como un conjunto de actividades (resumidas en producir y usar artefactos) y como manifestación de determinada voluntad del ser humano en relación al mundo (tecnología como volición) (CUPANI, 2006, p. 353 apud MITCHAM, 1994, p. 60).
Com relação as teorias tecnológicas, que pode dar suporte ao conhecimento tecnológico, Bunge divide em dois tipos como apresenta a figura 1:
Fonte: Desenvolvido a partir de Cupani (2006)
Já Herschbach (1995) apresenta em seu artigo as visões de Vincenti (1984) a respeito da identificação de três categorias de conhecimento tecnológico sendo:
a) descritivo:
b) prescritivo, e
c) tácito.
O autor esclarece que a descritivo e prescritivo são categorias de conhecimento tecnológico explícito, mas o conhecimento descritivo descreve as coisas como elas são, enquanto que o conhecimento normativo prescreve o que tem que ser feito para alcançar os resultados desejados. O conhecimento tácito está implícito na atividade, é em grande parte o resultado do julgamento individual, habilidade e prática e não é facilmente expresso formalmente.
É evidente que o conhecimento tecnológico está presente na sociedade e embora alguns cientistas tenham restrições quanto a seu uso, ou melhor, a sua validade quanto conhecimento científico, ele pode ter um ligação próxima com a ciência.
Conhecimento Científico e o Tecnológico
O termo "tecnologia" está fortemente associado com a ciência aplicada, principalmente quando emerge a necessidade de solução de problemas técnicos. Entretanto é importante ressaltar que o conhecimento científico pode dar suporte teórico para o conhecimento tecnológico, mas ciência aplicada não pode ser vista como sinônimo de conhecimento tecnológico.
Como menciona Cupani (2006, p. 255) ao afirmar que “es ciertamente más seguro recurrir a consideraciones históricas y teóricas para verificar que la tecnología es algo diferente de ciencia aplicada”. O autor destaca que a ciência aplicada é um exercício de dedução a partir da ciência pura, porém há um espaço a ser preenchido pela implementação de suas conclusões que deve ser preenchida por uma invenção.
Pode-se verificar a diferença entre a ciência e a tecnologia exposta por Cupani que esclarece:
A las diferencias hay que agregar que la ciencia busca establecer leyes que “gobiernan” los fenómenos naturales, mientras la tecnología formula reglas de acción para dar origen a los fenómenos artificiales (CUPANI, 2006, p. 357).
Conhecimento científico possui amplo alcance. Entretanto o autor destaca o pondo de congruência entre elas quando apresenta que:
“Si se prefiere, la tecnología puede ser vista como el campo de conocimiento relativo al proyecto de artefactos y la planificación de su realización, operación, ajuste, manutención y monitoración, a la luz de conocimiento científico” (CUPANI, 2006, p. 354 apud Bunge, 1985a, p. 231).
Desta forma, se verifica que a finalidade do conhecimento científico é a compreensão dos fenômenos e as leis da natureza. Ciência é saber. A finalidade do conhecimento tecnológico, porém, é praxiológico, isto é, a eficiência de controle ou de manipular o mundo físico, de fazer as coisas (HERSCHBACH, 1995 apud SKOLIMOWSKI, 1972).
A eficiência é o objetivo final da tecnologia, já a ciência é baseada na observação e presume em seu fim a confirmação da teoria. A tecnologia prevê em seu fim a influência e visa controlar a atividade. Desta forma o conhecimento tecnológico não consiste apenas em uma aplicação do conhecimento científico. Ele procura ir mais além e buscar soluções e artefatos tecnológicos que possuam aplicação específica. Portanto, se pode presumir que as pesquisas tecnológicas contribuem para o desenvolvimento da ciência. Menciona-se isto pois a tecnologia é um modo específico de conhecimento e, previamente, um modo específico de resolver determinados problemas de conhecimento. Como afirma Gary Gutting, ela não é sinônima de ciência aplicada, mas tampouco se reduz a técnicas (por mais sofisticadas que sejam) sem valor cognitivo, pelo contrário, constitui-se de “um corpo de conhecimento prático” (HERSCHBACH, 1995 apud GUTTING,1984, p. 64).
Conclusão
Pode-se verificar ao longo das pesquisas, que deram suporte para escrever este artigo, que se encontrou clara evidência do preconceito a cerca do reconhecimento do conhecimento tecnológico como agregador de conhecimento à ciência.
Encontra-se na literatura sobre esta temática a posição de autores que mencionam o conhecimento científico, dando suporte para o conhecimento tecnológico, mas em poucos artigos se percebeu uma recíproca verdadeira. A maioria se referiu a não existência de um conhecimento tecnológico, mas tratando a assunto como técnicas específicas utilizada na resolução de problemas práticos. Optou-se por deixar estes autores de fora, pois não corrobora com o pensamento deste autor, pois entende que os conhecimentos científicos e tecnológicos podem ser mutuamente auxiliados, embora tenham especificidades distintas em grande parte de seu desenvolvimento.
Referências
BRAGA, Saldanha Alves. A Crítica da inteligência em Xavier Zubiri. Monografia
como trabalho de conclusão de curso. Universidade Católica Dom Bosco. Campo
Grande/MS-Brasil 2005.
CUPANI, Alberto. La peculiaridad del conocimiento tecnológico. Scientiæ Studia. São Paulo. 2006. Disponível em: < http://www.scientiaestudia.org.br/revista/PDF/04_03_01.pdf>. Acesso em: 20/04/2010.
GARCIA, Francisco Antonio. Filosofia e a verdade. 2001. Disponível em: < http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/viewFile/2799/1906>. Acesso em: 30/04/2010.
HERSCHBACH, Dennis R. Technology as Knowledge: Implications for Instruction. Journal of Technology Education. Vol. 7 No. 1. 1995. Disponível em: < http://scholar.lib.vt.edu/ejournals/JTE/v7n1/pdf/herschbach.pdf>. Acesso em: 26/04/2010.
ZUBRI, Xavier. Cinco Lecciones de filosofía. 6.ed. Madrid: Alianza. 1997.
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